“Os observatórios de mídia são agentes de incentivo à reflexão e à participação da sociedade, no sentido de uma democratização dos processos comunicacionais. Em tempos tão difíceis, marcados pela disseminação de fake news, é fundamental aprender a analisar o conteúdo que a mídia produz. O cidadão não pode receber passivamente esse conteúdo sem sobre ele refletir”. Foi com essa fala que a jornalista e professora do curso de Jornalismo da UFRRJ, Ivana Barreto, abriu a mesa redonda “ Observatórios de mídia: crítica, educação e cidadania”, no dia 24 de setembro.
Parte das comemorações dos dez anos do curso de Jornalismo da Rural, o evento teve como convidados o jornalista Pedro Varoni, editor do Observatório da Imprensa, e a também jornalista, doutora em Comunicação pela Universidade do Minho, Cristiane Parente. O encontro ainda contou com as presenças do coordenador do curso, André Holanda, e das professoras Rejane Moreira e Simone Orlando.
A partir de algumas citações de Alberto Dines, jornalista e fundador do Observatório da Imprensa, a mesa começou com uma reflexão sobre a importância do olhar analítico, capaz de entender as problemáticas sociais, e o papel das empresas jornalísticas nesse processo. Especificamente sobre o Observatório, Pedro Varoni ressaltou que ele surgiu quando o modelo da mídia de massa ainda era predominante, não tão influenciado pelas mídias sociais, sendo o primeiro fórum brasileiro de crítica da imprensa e do jornalismo.
“O discurso produz realidade, então, se estamos fazendo circular crítica de mídia, estamos interferindo no modo de fazer jornalismo”, lembrou.
Segundo ele, o Observatório contribuiu para um amadurecimento do jornalismo brasileiro, criando uma instância de verificação crítica, autônoma, pluralista, apartidária e com viés progressista.
O Observatório
A importância de um espaço constituído por contribuições voluntárias de articulistas também foi salientada por Pedro Varoni. Espaço extremamente necessário dentro do jornalismo brasileiro. Os colaboradores – jornalistas, professores universitários e estudantes de diversas partes do Brasil, trazem uma nova vitalidade ao veículo, explicitando ainda mais a urgência de um modelo representativo, onde as pessoas possam trazer e reconhecer as suas vivências.
Para o jornalista, embora hoje todo mundo seja comunicador em algum sentido, produzindo e compartilhando conteúdos, é preciso que haja uma alfabetização midiática, que ensine, sobretudo, a diferença entre desinformação e informação. Apesar de ser um momento propício para as fake news, o atual contexto também criou um jornalismo de resistência que, para se manter, está precisando criar alternativas muito além do simples fact-checking.
Os observatórios de mídia se encarregam, nesse cenário, de ajudar na criação de pautas mais cidadãs e na correção de distorções, fiscalizando os meios, os conteúdos e a atuação dos profissionais da área. Eles são fundamentais, conforme destacou Cristiane Parente, para “emprestar” essa visão à sociedade, podendo ajudar a população a compreender os bastidores de cada processo.
Educação para a cidadania
A jornalista lembrou ainda a importância das universidades e da educação nesse processo: “ É relevante o papel das universidades, da educação. Afinal, são espaços da crítica, da reflexão. O próprio Observatório da Imprensa nasceu da parceria com uma universidade, a Unicamp”.
Além disso, estender a rede de comunicação, por meio de parcerias entre os observatórios, imprensa e grupos de pesquisa, é essencial no Brasil, onde os próprios observatórios desconhecem uns aos outros. De acordo com a jornalista, essas instâncias estão ligadas a uma educação para a cidadania, sendo, assim, responsabilidade de todos.
Cristiane igualmente lembrou a relevância de, no processo de criação de um observatório, haver o questionamento acerca daquilo que se deseja, de fato, observar, assumindo o lugar de onde se observa.
Já Ivana Barreto destacou a necessidade de um espaço que abrigue o jornalismo contextualizado, jornalismo de imersão e de dados:” Se falta espaço nos veículos de imprensa tradicionais, é importante que os observatórios abram caminho para essa outra leitura do fazer jornalístico.”
Antes das perguntas dos participantes, também fizeram ponderações e questionamentos os professores do curso presentes no evento. O primeiro a trazer seu posicionamento foi o professor André Holanda, que abordou questões relacionadas à liberação do polo emissor da comunicação e à pós-verdade. Ainda lembrou a necessidade de se pensar o receptor muito além do papel de consumidor passivo da informação .
Já Rejane Moreira, especialista em estudos de mídia, evidenciou o valor da contextualização histórica para o estabelecimento das relações de confiabilidade. Lembrou, a partir do exemplo da reportagem “O nascimento de Joyci”, de Fabiana Moraes, vencedora do prêmio Esso de 2009, a urgência do jornalista demonstrar em seu texto, de forma clara, sua visão de mundo e, assim, contribuir para o surgimento de uma relação de confiança com o leitor. Na mesma linha de pensamento, Pedro Varoni frisou: “o jornalismo tenta se disfarçar na questão da objetividade ou neutralidade, mas sua alma é a subjetividade”.
A professora Simone Orlando, por sua vez, citou os observatórios como espaços para a formação acadêmica. E destacou que o compromisso dos jornalistas, enquanto formadores de opinião, é com a imersão do leitor.
O evento, que teve na organização, programação visual e suporte o aluno Pedro Henrique Cabo, terminou com os professores do curso e os palestrantes respondendo as perguntas dos que participaram da mesa, transmitida no canal do YouTube do Observatório de Mídia do Curso de Jornalismo da UFRRJ.
Você pode conferir o evento na íntegra através do QR Code:
Reportagem e redação: Laryssa Baião e Lucas França
Edição: Ivana Barreto